ORIENTADOR

Como o próprio nome sugere, o membro orientador é o professor que, juntamente com a diretoria, coordena as atividades e responde pela liga. A ele cabe o papel de fomentar discussões pertinentes, direcionar o processo de ensino-aprendizagem, comparecer às reuniões científicas sempre que possível; reconhecer e emitir certificados pela liga, engajar-se na orientação de projetos e visar o alcance dos principais objetivos da LIASE.
 
Desde a sua fundação, a LIASE conta com a orientação do professor Dr. Alexandre de Almeida Barra. Veja abaixo o que ele tem a dizer sobre a liga:
 
1. Por que você escolheu ser o coordenador da LIASE?
"Os professores da disciplina de Saúde e Espiritualidade foram convidados a participar como coordenador e como eu estava engajado em criar uma linha para despertar nos alunos uma nova filosofia para a abordagem médica, fiquei estimulado porque acredito ser necessário uma  alternativa em face da crise do modelo médico dominante, isto é, da medicina especialista tecnológica e  mercantilista marcada pelas terapêuticas caracterizadas pela  desumanização da prática médica, o que teve como consequência o esvaziamento progressivo da relação médico-paciente".
 
2. Como você acha que a liga pode ajudar os estudantes em formação?
"A liga ajuda aos alunos vivenciar experiências diferentes na atuação médica, valorizando uma abordagem mais holística e humanizada. Os aspectos simbólico e psicológico do sujeito humano não podem ser deixados de lado. O dom de curar tem incluído necessariamente esses aspectos por toda a história da humanidade. É neste sentido que se gera uma dúvida social sobre o poder de cura de uma prática médica reduzida a técnica. Tal prática tende a ser rejeitada como arte de curar por seus destinatários. Estabelece-se, neste caso, uma crise de relações entre medicina e população usuária no nível cultural. E uma das saídas que a população encontra para contornar esta crise é a busca de práticas integrativas em que os aspectos simbólicos, psicossociais e existenciais tenham sido preservados. É o que acontece com as chamadas práticas integrativas que fazem parte das atividades da liga".
 
3. A LIASE abre semestralmente vagas em seu processo seletivo para estudantes de todos os cursos da UFOP a partir do 1º período. Você acha que existe algum período mais apropriado para o estudante participar da LIASE?
"Considerando as atividades da liga que aborda práticas integrativas, humanização  e  investimento na relação médico-paciente como muita frequência, acredito que a partir do quinto período seria o melhor momento para o aluno participar  da liga, pois nesta fase ele já tem contato  com as atividades de atendimento dos pacientes". 
 
4. Quais as suas expectativas em relação às atividades realizadas pela LIASE? E quais os maiores desafios a serem enfrentados?
"Minhas expectativas são muito positivas, pois acredito que grande parte dos alunos do nosso curso da UFOP valorizam a humanização do atendimento. O aprendizado deve ter uma relevância social associada. As atividades de extensão da liga estão engajadas em proporcionar uma mentalidade de doação e ajuda ao próximo. Segundo CRUZ (1999),  o exercício de autopromoção do médico é condição de habilitação na arte médica hipocrática de curar. Através dela, com autoconhecimento, o fundamento de toda verdadeira sabedoria, o médico deve se capacitar para encontrar em si mesmo o recurso de auxílio ao enfermo em seu auto-serviço de cura. Corpo e mente, matéria e espírito, natureza e idéia, as dualidades todas poderiam, mesmo diferentes, interagir em um mesmo mundo, se fosse possível a criação de um campo comum. Não se trata da criação de algo externo, mas da concepção de um elemento comum, tecido pelos participantes. Todo conhecimento científico-natural é científico-social, a modernidade construiu um conhecimento fragmentado, fruto de uma razão seletiva e unidimensional, as filosofias contemporâneas parecem iniciar o processo de revisão desse caminho e apontam para a valorização de ciências como as práticas integrativas. A despeito de ser local, o conhecimento é também universal, estando em sintonia com uma comunidade universal e indivisa, essa universalidade clama por ciências capazes de gerar maior justiça social, baseadas que devem ser em um espírito de solidariedade. O grande desafio seria ampliar esta visão não somente no curso da UFOP, mas em todas as universidades do Brasil, pois a valorização da abordagem mais técnica e cartesiana está muito forte na prática médica atual.  No domínio da economia e política, o binômio dinheiro e poder produzem a monetarização e a burocratização dos sistemas e passam a controlar a vida dos indivíduos. Não é preciso aprofundar muito a crítica para compreender que fenômenos como o da indústria da saúde, para significar a poderosa indústria de medicamentos e de demais “serviços” de saúde, são conseqüências de uma racionalidade que filtra valores essenciais para a construção de um projeto de emancipação humana. O modelo capitalista de concentração dos recursos materiais e da organização institucional nas mãos de empresários capitalistas e do Estado moderno, ambos obrigados ao cálculo contábil, leva a que, por exemplo, se adotem práticas médicas de massa, optimizadas quanto ao custo".
 
5. Você acha que a liga foi bem recebida pela comunidade acadêmica?
"A  liga foi bem recebida pela comunidade acadêmica, principalmente, porque está claro que o nosso objetivo é compartilhar o desejo de um atendimento mais humanizado e não somente abordar a relação da espiritualidade na saúde".
 
6. Deixe uma mensagem às pessoas que ainda não participam da LIASE e aos ligantes que já estão envolvidos nas atividades da liga. 
"Vamos lutar pela humanização do atendimento, claro que sem desvalorizar a técnica. Ciência desumana é prejudicial, mas humanização sem ciência não vale. A necessidade de complexo envolvimento com o paciente jamais é mencionada nos compêndios médicos ou citada no treinamento de profissionais, entretanto ele é essencial para estabelecer um relação de confiança que já produz um efeito terapêutico. 
 
Meus queridos ligantes, parabéns pelo belo trabalho que vocês estão fazendo, podemos não apagar o incêndio, mas com a nossa pequena gota derramada permite a gente dormir tranquilo a noite. Existe muita gente boa que valoriza o atendimento humanizado, precisamos melhorar a nossa impressão para a sociedade. Vamos continuar, pois “mais vale o caminho do que a chegada”.
 
Dois mil e quinhentos anos atrás, disse Hipócrates, “... pois onde quer que haja amor humano também existe o amor à arte. Alguns pacientes, embora cientes de sua perigosa situação, recuperam a saúde simplesmente por causa de sua satisfação com o médico”. No século XVI, Paracelso, o grande médico alemão  de sua era, inclui entre as qualificações básicas do médico “a intuição necessária à compreensão do paciente, de seu corpo e de sua doença. Deve possuir o sentimento e o tato que lhe possibilitem entrar em comunicação solidária com o espírito do paciente”. O raciocínio médico não se dá apenas pelas informações técnicas, havendo a necessidade de conjugar essas informações com impressões subjetivas, culturais, aliadas a experiência individual do médico. O efeito placebo confirma que medicina é mais do que intervenção técnica. Doença e cura são processos corporais em um contexto de relações mais amplas. O paciente em seu modo de ser, é fator básico na eficiência da intervenção médica. Na medicina, a atuação da dimensão simbólica é indispensável. A arte de ouvir e sentir empatia do encontro revela a essência da arte de curar. Mais do que ostentar ciência ou habilidade técnica, é preciso inocular confiança nas pessoas e mostrar que elas mesmas são o fator básico para a eficiência de toda ajuda e desenvolvimento.  A arte de ouvir é o núcleo da arte de ajudar, enquanto envolve o terapeuta com o paciente na complexidade das relações, capacitando-o a perceber problemas que nem foram mencionados. E o remédio mais adequado não raro, é antes uma palavra com afeto do que uma droga com perícia, antes uma porta entreaberta do que um quadro ameaçador, pois a fé com serenidade revigora a pessoa em sua condição de vida".
 
Confira AQUI a entrevista do nosso orientador para o programa Plano Aberto da UFOP!