Anamnese Espiritual: abordagem teórico-prática em pacientes institucionalizados

 

CONTEXTO
A relação entre medicina e religião é datada desde tempos remotos. Egípcios, gregos e autoridades religiosas dos tempos medievais aliaram práticas médicas e espirituais no cuidado dos pacientes. Somente no período da Renascença é que se observa uma cisão entre ciência e espiritualidade, o que perduraria até o século XX, quando ocorre o crescimento da “Espiritualidade Baseada em Evidências”, a qual se propôs a estudar os desfechos clínicos proporcionados pela fé.

Diversos métodos e questionários para abordagem clínica da espiritualidade, a exemplo do FICA, foram cientificamente desenvolvidos como uma forma de guiar o médico na prática da anamnese espiritual, em especial considerando-se a lacuna de tal abordagem na formação médica. Este roteiro contempla questões específicas relacionadas à espiritualidade como fé, importância da crença, comunidade relacionada à crença e formulação de ações no cuidado do paciente segundo informações colhidas.

OBJETIVO
O objetivo do presente projeto é, portanto, trazer para a prática de estudantes substrato teórico e vivências práticas na abordagem e coleta de histórias espirituais de pacientes institucionalizados. Além disso, busca-se realizar o cuidado humanizado e integral dos pacientes institucionalizados na Santa Casa da Misericórdia de Ouro Preto, através da anamnese espiritual.

METODOLOGIA
Inicialmente o projeto começou com um módulo teórico, com encontros semanais, com o objetivo de aproximar o grupo de textos de referência em abordagem da espiritualidade. Começamos com o estudo do livro Espiritualidade no Cuidado com o Paciente de Harold Koenig, em que, dispostos em roda, cada um dos nove integrantes do grupo trazia um capítulo para discussão. O livro representou um fonte confiável e valiosa para formação do grupo quanto a elementos fundamentais para a abordagem da espiritualidade contemplando quando, como, por que, os limites e os prejuízos que podem advir da anamnese espiritual.

Em seguida, o grupo entendeu que a preparação para a abordagem da espiritualidade dos pacientes passava também pelo conhecimento mesmo que inicial das religiões. Dessa forma, seguimos para um módulo de bate papo com membros de diversas religiões como: Espiritismo, Catolicismo, Umbanda, Igreja Metodista, Seicho No Ie e Budismo. Para cada entrevista seguíamos um roteiro de perguntas em comum, criado pelo grupo, com o objetivo de entender de forma ampla aquela doutrina bem como sua visão de saúde e doença.

A partir desses primeiros momentos de preparação seguimos para um módulo de role-plays, em que todos os integrantes do grupo eram responsáveis pela criação de um caso clínico com aplicação do FICA, seguida da sua simulação em duplas. Após as simulações abríamos para discussões, dúvidas, sugestões entre os integrantes, representando uma atividade bastante produtiva.

O passo seguinte e atual consiste nas visitas à Santa Casa de Misericórdia de Ouro Preto para abordagem da anamnese espiritual inspirada no FICA com pacientes institucionalizados. O grupo é dividido em trios que fazem a abordagem de 1 paciente por visita. Sempre é feita a identificação do grupo com apresentação do projeto bem como pergunta-se ao paciente sobre sua disponibilidade em conversar. Todas as abordagens até o momento têm se mostrado muito ricas para o crescimento pessoal e acadêmico dos integrantes do grupo, seja pelas dificuldades em abordar a espiritualidade, seja pelos desafios sociais que encontramos, pelos relatos de vida, pelas variadas formas de expressão da espiritualidade, seja pelo contato humano em si. Conforme identificada a necessidade é feito o encaminhamento de um capelão ou a pessoa/profissional referência nos cuidados espirituais.

Associado a essas visitas, continuamos realizando encontros semanais para aperfeiçoamento teórico. Atualmente estamos estudando o livro Sobre a Morte e o Morrer de Elisabeth Kubler Ross, uma vez que sentimos a necessidade de discutir e refletir sobre a morte, que é um tema que ainda carece de maior abordagem em nossa formação médica.

AVALIAÇÃO
A avaliação dos participantes é feita através dos registros dos dados coletados, das impressões colhidas sobre a abordagem bem como pelas discussões em equipe após cada intervenção. Para a avaliação do impacto das atividades desenvolvidas, é valorizada a fala espontânea dos pacientes seguida de perguntas semiestruturadas, o que tem sido fundamental para aprimorar o impacto da intervenção concomitantemente à implementação da mesma.

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